Pensando no atual conflito entre a responsabilidade das organizações públicas e das empresas privadas na barragem de Belo Monte, podemos perceber uma situação paralela durante o primeiro contanto entre brancos com a nação indígena Zo’é. A Funai, que originalmente pretendia preparar os Zo’é, antes da construção de uma rodovia, decidiu adiar esse projeto quando a obra foi cancelada porque não havia mais ameaça para o povo.

Assim, este primeiro encontro foi realizado por missionários evangélicos norte-americanos. Os missionários comunicaram  a Funai, em 1982, sobre suas ações. Porém, como muitas outras histórias de contato, logo depois os Zo’é pegaram doenças como gripe, malária, e tifo. Essa epidemia só recebeu atenção da imprensa, em 1989, quando um sertanista visitou os Zo’é, e fez a denúncia. Fontes diferentes acusam a Funai ou a Missão de serem culpados pela morte de metade da população Zo’é inicial. A Funai aponta o dedo para a Missão, alegando que ela desrespeitou sua autoridade, e que tomou uma atitude de negligência quanto à saúde dos indígenas. A imprensa também desconfia da confiabilidade dos dados sobre a mortalidade Zo’é, providenciada pela Missão.

Apesar disso, o sertanista só completou a viagem por causa de um relato dos norte-americanos. Por sua vez, a Funai demorou anos para monitorar a situação e mandar vacinas. No final das contas, nenhuma das duas organizações, uma governamental e uma privada, sentiram a obrigação de proactivamente proteger a saúde do grupo de recém contato. A competição entre a Funai e a Missão também gerou uma corrida para contatar grupos isolados, o mais rapidamente possível, para prevenir “interferência” de outros brancos representantes da vida ocidental. Isso representa uma mudança de paradigma da política. Antes, o contato só deveria ser feito se fosse necessário.

https://documentacao.socioambiental.org/noticias/anexo_noticia/31039_20150701_152547.pdf