Sobre os Krenak e sua região  

Lisa Abascal

30 de novembro de 2018

Ailton Krenak: Libertador da perseguição aos Krenak

Localizados no estado de Minas Gerais, o povo Krenak tem suportado e superado inúmeras adversidades. Começamos pela perda de seus territórios. Os Krenak foram desterrados várias vezes ao longo dos último 500 anos, primeiro, por outros grupos indígenas e, depois, pelo governo. Nos anos 1980s, alguns Krenak conseguiram recuperar parte de suas terras nas margens do Rio Doce. Vinte anos atrás, o sistema judicial brasileiro ajudou o povo Krenak a retomar 4000 hectares do território que eram deles antigamente.

Grande parte da exclusão e dos abusos contra o povo Krenak vêm de preconceitos de séculos atrás. Os Krenak têm suportado muito, desde serem acusados de canibalismo a terem que lutar contra uma coalizão de outras tribos apoiadas pelo governo brasileiro. O resultado foi a dizimação da população, e a maioria dos Krenaks restantes têm alguns ancestrais que pertencem a outro grupo indígena ou étnico.

Ailton Krenak, nascido em 1953, tem sido instrumental em fazer ouvir a história do seu povo pelo público. Enquanto a memória coletiva permanece na tribo, Ailton tem procurado compartilhar a história coletiva dos Krenak. É impressionante como ele consegue manter seu espaço tanto entre seu povo nativo como em sua vida como residente na cidade. Parece que ele é capaz de fazê-lo, porque ele escolhe definir-se em termos de seu pensamento indígena.

Ailton Krenak é um educador do pensamento indígena. Ele compreende que a história de seu povo é definida pela tragédia, mas também entende que isto trouxe o multiculturalismo às pessoas Krenak, uma característica que Ailton utiliza para unificar os membros de seu povo, outras tribos distintas, e os brasileiros, juntos nesta nova coalizão indígena. Para realizar esta ideia, Krenak fala da importância de participar. Ele vota nas eleições brasileiras, mas diz que a prioridade é estar envolvido em sua comunidade, seja qual for esse espaço. Não votar é muitas vezes visto como um problema, mas, novamente, Ailton Krenak recusa sucumbir a este binarismo entre certo ou errado, acreditando que é a intenção de participação, e não o ato único de votar, que importa.

Sua entrevista, “Receber Sonhos” (1989) é uma obra-prima de clareza. Ela ilumina o pensamento indígena para uma audiência sofisticada, algo que é raro num gênero de literatura esmagadoramente infantil. Ailton consegue manter o otimismo para o futuro do povo Krenak, apesar das devastações que eles enfrentaram. Escritor e educador, mas, o mais importante, diplomata, Ailton Krenak tirou um pouco do peso que o povo Krenak tem ressentido durante tanto tempo, dado que eles têm estado em constante conflito com outros grupos desde que existe sua memória coletiva.