Complementando as informações de Francisca sobre a situação atual e a politica do povo Kaingang, eu vou usar  meu blog para falar sobre suas artes. Os Kaingang têm uma rica tradição observada em documentos históricos europeus desde os primeiros encontros com  eles. Usando uma grande variedade de materias nativos do sul do Brasil, eles fazem tecidos, cestaria, e cerâmica, e, alem disso, armas, instrumentos e utensílios. Uma coisa que me interessa sobre a cultura material dos Kaingang, e que se distancia de minha percepção sobre a arte informada pela tradição europeia, é a maneira pela qual esses objetos reformulam distinções entre as categories do decorativo e do útil.

O grafismo Kaingang, por exemplo, que pode ser observado em todas as mídias, inclusive na pintura do corpo, tem uma importância social e cosmológica, que faz dessas formas geométricas abstratas significativas, além da estética. Como descreve o antropólogo Sérgio Batista dos Santos,

“Os trançados expostos nas cidades, nas feiras de domingo, na beira de estradas ou em qualquer lugar em que esteja um Kaingang, não são apenas wõgfy (trançados em geral, que podem ser kre—cestos—ou tugfy—trançados aplicados a objetos os mais variados, como garrafas, flechas, arcos-): são marcas visíveis da diferença, uma vez que são parte de um Sistema de representações visuais (as formas tradicionais dos kre, os grafismos tradicionais presentes), originados por um tradicional e específico Sistema cultural kaingang. Além disso, seus trançados revelam formas e grafismos vinculados à percepção dual Kaingang do cosmo, enfatizando e sintetizando sua organização social baseada em duas metades.”

Encontrei um vídeo com alguns exemplos do grafismo na cestaria aqui:

Há cerca de 45,000 Kaingang, espalhados no territorio que agora faz parte dos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

Seus vários dialetos pertencem `a familia linguística Jê. As tensões e divisões entre os sub-grupos  Kaingang foram exacerbadas desde o contato inicial com os europeus no século XVI.

A denominação “Kaingang” foi aplicada pelo paranaense, etnógrafo e politico, Telemaco Borba apenas no secúlo XIX para distingui-los do povo Xokleng, com quem eles compartilham uma história comum, mas cuja divergiu. Esse é apenas um dos modos pelos quais sua história foi moldada pelos colonizadores, com quem muitas tribos Kaingang tiveram um contato comparativamente precoce por causa de sua ocupação do litoral.

(Fonte: Sergio Baptista da Silva, “Etnoarqueologia dos Grafismos Kaingang: um modelo para a compreensão das sociedades Proto-Jê meridionais.” Thesis., Universidade de São Paulo, 2001, 168.)