Fundações para a luta contra Belo Monte: Raoni traz uma perspectiva indígena

Lisa Abascal

19 de outubro de 2018

O filme Raoni (1973) ilumina as tensões presentes no Brasil durante as últimas décadas ligadas à barragem de Belo Monte. Belo Monte não só representa a destruição da natureza amazônica ao redor do rio Xingu; também representa a destruição dos povos indígenas na área. Raoni, o chefe do povo Kayapo, ficou famoso ao redor do mundo por seus esforços apaixonados contra os esforços do governo brasileiro em destruir a natureza. Com efeito, Raoni é o símbolo mais reconhecido da oposição ao projeto Belo Monte.

É importante notar que o filme Raoni foi lançado em 1973, antes da construção da barragem de Belo Monte. Assim, antes de atuar na oposição à construção da barragem, Raoni estava lutando para a proteção das florestas tropicais. O filme ajuda-nos a entender o impacto de Belo Monte através da perspectiva indígena, dos povos que terão que viver com as consequências da barragem. No filme, vemos a beleza da natureza perto do Rio Xingu, onde moram os Kayapó. Mais importante, também serve para humanizar o povo de Raoni, mostrando que os indígenas não são ferozes; são um grupo que leva uma vida cheia de tradições e disciplina. Na cena onde matam um jaguar, o filme enfatiza que a caçada requer um ritual, novamente o oposto da barbárie. Claro, Raoni não somente ajuda-nos a entender os modos de vida dos Kayapos, e como eles seriam afetados por uma força disruptiva como a construção de uma barragem, mas também mostra a motivação política de Raoni em proteger seu povo e território.

A fundação para a progressão política da luta de Belo Monte revela-se no filme Raoni. A luta entre o governo e os povos indígenas é uma luta que tem raízes muito antigas, contudo, os indígenas quase sempre fracassaram nos seus esforços. Nos últimos 50 anos, a política nacional brasileira mudou, de certa forma, a favor dos indígenas, mas o progresso é devagar. Na cultura Kayapo, o poder político é mais suave do que no sistema político brasileiro. O filme Raoni mostra como o chefe Raoni está dedicado a servir o seu povo e os trata como iguais, valorizando suas opiniões e dando recomendações, não comandos. Em sua exposição à cultura brasileira e em suas falas com Claudio Villas Boas, Raoni percebe que, para preservar seu povo e território, ele precisa tornar-se mais visível, mas ele consegue manter seu estilo de liderança suave e carismático.

O filme Raoni também ajuda a entender outro dos grandes problemas na luta contra Belo Monte – a desunião dos povos indígenas brasileiros. Até agora, Raoni tem encabeçado muitos dos esforços contra o desmatamento da Amazônia e, logo, contra Belo Monte. Isto é importante porque, pela primeira vez, os indígenas coletivamente tiveram uma figura de proa. No filme, vemos as conexões de Raoni com pessoas influentes, que depois o ajudariam em sua luta contra Belo Monte, como Sting, por exemplo. Ao entender como Raoni ganhou influência sobre seu povo e a população brasileira, podemos entender melhor seus esforços, mais tarde, contra a barragem de Belo Monte, e, claro, o filme Raoni trouxe ainda mais atenção para ele. Serviu para educar o público brasileiro sobre o modo de vida indígena, e chamou a atenção do público para o chefe Raoni.