Belo Monte.

Texto escrito a partir da leitura de Eliane Brum, “Belo Monte: a anatomia de um etnocídio.” Entrevista com a procuradora Thais Santi

Por Karina Aguilar Guerrero

Outubro 20, 2018

Infelizmente, a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte pode ser classificada como o “mundo em que tudo é possível”, exceto a sobrevivência dos povos indígenas. Neste mundo, as leis falham e o esgotamento de recursos, a morte cultural, e o genocídio abundam. Em lugares como Belo Monte, podemos ver o que acontece quando as pessoas são desumanizadas apenas por serem diferentes. Neste local (na cidade de Altamira), esse processo começou com a dependência criada pela Norte Energia. Essa dependência pode ter muitos efeitos negativos, não apenas na vida física dos povos indígenas, mas também em sua vida espiritual e cultural. Antonio e Dulcineia descrevem a situação dizendo que é “a primeira vez que precisam comprar o que comem, a primeira vez que não têm dinheiro para comprar o que comem, a primeira fome” (Brum, 2018). Ao impedirem sua capacidade de auto-sustentacão, a usina destruiu uma grande parte da cultura ribeirinha. Além do mais, mesmo que não tenham sido deslocados, a destruição da vida florestal que ocorreu para construir a usina também torna extremamente difícil para os ribeirinhos manterem essa parte da sua cultura. “Ser ribeirinho é ter uma identidade singular, determinada por uma relação intima com a floresta e o rio” (Brum, 2018). Não só isso, ao arruinar a estrutura pré-estabelecida, eles elevaram o alcoolismo e os conflitos entre aldeias e a gente indígena.

Os conflitos e a pressão das pessoas que lucram com a usina obrigaram os povos indígenas a não só deixarem suas casas, mas também a viver em extrema pobreza em lugares que não foram realmente projetados para suportar tanto, lugares onde falta estrutura e segurança. Brum dá um exemplo disso quando ela diz, “Uma escola construída para não durar, quando o que deveria ter sido feito era ampliar o acesso à educação na região de impacto da hidrelétrica” (2014). As pessoas no poder tiram tudo o que os ribeirinhos possuem e fornecem quase nada que possa realmente resolver seus problemas.

Todas as coisas que são destruídas por este projeto são insubstituíveis. O governo usa “os rios amazônicos, o recurso mais precioso, aquele que estará escasso no futuro, para produzir energia” (Brum, 2014). Esses rios, essas florestas, esses animais – assim como os seres humanos – fazem parte de um ecossistema co-dependente. O governo e as empresas que apoiam a usina hidrelétrica não parecem perceber que, embora o esgotamento desses recursos tenha um impacto primeiro e mais forte sobre os povos indígenas, eles não são os únicos afetados. As pessoas em todo o Brasil e em todo o mundo precisam desses recursos para sobreviver. Se eles mantiverem esse ritmo de destruição de recursos, culturas, e pessoas, logo nos encontraremos em um mundo onde nem mesmo a sobrevivência é possível.