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Autor: Bruno Fernandes

Uma Introdução aos Suruí Paiter

Quem São os Suruí Paiter?

O grupo que eu escolhi foi o Suruí Paiter, que significa “gente de verdade, nós mesmos”, na sua língua nativa. A língua falada pelo grupo pertence `a  família dos idiomas tupi. Hoje, cerca de 800 Paiter vivem em 11 aldeias espalhadas pela Terra Indígena Sete de Setembro, no Estado de Rondônia. Os Paiter foram contactados pela primeira vez em 1969, e têm uma disposição guerreira, e uma fama por sua habilidade com o arco e a flecha.

mapa da Terra Indígena Sete de Setembro

1. Mapa da TI Sete de Setembro

Organização Social

Quando eu fiz a pesquisa inicial sobre o grupo, eu fiquei interessado na estrutura da família Paiter e nos espaços arquitetônicos que eles habitam. Na sociedade patriarcal e polígama dos Paiter, existe o costume de casamento avuncular, em que os homens casam-se com as filhas de suas irmãs. Essas pequenas unidades familiares vivem em conjunto com parentes em malocas–casas elípticas com uma fundação de paus que é coberta com cascas de árvore para proteger da chuva. Essas casas chegam a atingir até 25 metros de comprimento e 8 de altura. Cada família tem um fogo e várias camas e, no centro, encontra-se um fogo grande e panelas de cerâmica, que são utilizadas para fazer sopas e “i”, a bebida cerimonial que acompanha as festas religiosas.

imágem da fundação de uma maloca

2. Maloca em construção.

imágem do interior de uma maloca

3. Interior de uma maloca.

Arte e Cultura Material

Apesar da exploração que ocorre no seu território por parte de grandes empresas de mineração e madeira desde o primeiro contacto com brasileiros em 1969, a cultura material dos Suruí Paiter continua graças às mulheres e as crianças da comunidade. Durante a noite, quando não estão a buscar alimentos na roça para sustentar suas famílias, as mulheres Suruí produzem colares à base de frutos de tucumã. Elas partem e cortam os caroços, e esticam as fibras em fios que chegam a atingir 10 metros de comprimento. Esses fios são subsequentemente cozidos com uma agulha, e são convertidos em vestidos ceremoniais,  que são enfeitados com barro e metais pintados com tinta vermelha do urucum esmagado.

4. Líderes Surui usando os colares e os cintos.

Outro objeto produzido com o tecido do tucumã são as redes multi uso, agoiab, que podem ser usadas tanto para dormir como para cintos que carregam crianças (tipicamente seus filhos jovens) quando andam na roça. As mulheres também tecem cestos de vários tamanhos para transportar alimentos, redes de dormir, abanos de fogo, etc. Talvez o elemento mais impressionante da cultura material Suruí sejam as cerâmicas feitas através de uma técnica em que o barro é rolado e depois queimado duas vezes na aldeia ou mesmo na floresta. Essas cerâmicas são usadas tanto para servir comida e bebida como para cozinhar a sopa tradicional, que alimenta famílias inteiras.

5. Taças e bacias feitos pelos Suruí  exibidas na Galeria do Instituto de Artes (IA) da UNESP.

Almir e o Projeto de Carbono Florestal Suruí

Em 2007, sob a liderança do seu chefe Almir Suruí, as 26 aldeias dos Suruí começaram o Projeto de Carbono Suruí com a intenção de conseguir controle ampliado sobre seus recursos naturais e combater atividades madeireiras ilegais no seu território. Com a ajuda da instituição indígena Kanindé, e sua Equipa de Conservação da Amazônia, o projeto foi realizado e tornou a ser o primeiro projeto de carbono indígena. Em 2010, a Google patrocinou o projeto e distribuiu centenas de equipamentos para medir os níveis de carbono pelo território e telemóveis para denunciar atividades ilegais florestais em tempo real. Nesse mesmo ano, Google publicou um vídeo promovendo o projeto e mostrando o poder das suas tecnologias geoespaciais. 

 Apesar das boas intenções do projeto e o apoio dos seus patrocinadores, o projeto virou polémico no ano 2013 quando foi completada a primeira venda de créditos de carbono no valor de R$ 1,2 milhões para Natura, uma empresa brasileira de produtos cosméticos. Estes fundos dividiram a Associação Metareilá que incluí as diversas comunidades Suruí porque nunca chegaram a ser investidos na comunidade. Este investimento também chamou o interesse da polícia federal que ganharam força dentro da comunidade apertando não apenas intervenções ilegais na floresta mas também atividades de caça nas aldeias. Em 2017, o projeto foi desmontado por causa da invasão de garimpeiros sem resposta da FUNAI.

Religião e Cosmologia

A cosmovisão do povo Suruí Paiter tem muitos elementos espirituais que aparecem por toda a parte de grupos indígenas nas Américas. Na cosmologia Paiter, existem três grupos de espíritos: os goanei das águas, gorael dos céus, e Ho da fartura. Os espíritos são invocados ao longo das festas tradicionais, a mais importante sendo Hoyateim, em que o pajé e um grupo de homens Paiter carregam taquaras pelas comunidades. Os Paiter acreditam que os espíritos Ho materializam-se nas taquaras e o ritual serve para dar bênçãos às aldeias. Outros rituais praticados incluem Ngamangaré que celebra uma roça nova, Lawaawewa que inaugura uma maloca nova, e Weyxomaré que enfoca na pintura corporal.

 

Outra festa central na cultura Paiter é Mapimai que celebra a criação do mundo. Além das crenças sobre espíritos que podem ser invocados pelos rituais, os Paiter também acreditam num criador Palop (tradução: “Nosso Pai”) que mora numa terra sem mata e guarda a caça para que os Paiter conseguirem caçar conforme suas necessidades. Ainda mais importante na religião Paiter é a presença dos espíritos dos mortos e antepassados andando pelo caminho longo para a terra plana e fértil de Palop. Nem todos os mortos completam a viagem, mas os que encontram Palop começam uma nova vida onde podem se casar e ter filhos como na terra.

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