Princeton University

Autor: Leopoldo Solis

Contando a Historia dos Indígenas no Brasil

Até que ponto é considerada a história indígena no Brasil? Quando pensamos no papel histórico dos indígenas após a chegada e conquista dos portugueses, notamos as várias formas de exploração: como escravos, como convertidos submissos, como um grupo em luta constante pelos direitos pela própria terra, cultura, e independência. Assim, nessa perspectiva é fácil ver que eles têm ocupado historicamente uma posição marginalizada. No entanto, essa posição de marginalização também inclui a história nacional. Como é narrada a ‘história nacional’” A marginalização histórica do indígena manifesta-se da seguinte forma: na narrativa histórica nacional, o indígena nunca é considerado um agente independente. Eles podem ter todos os papeis históricos já mencionados, que sempre os situam como vítimas de poderes avassaladores, mas nunca  como atores com vontade própria, que também redefiniam e redefinem a nação e o ambiente.  Essa marginalização tem consequências graves para os indígenas no Brasil: primeiro, quando a vontade própria dos indígenas no Brasil é esquecida,  sãoigualmente esquecidos os seus direitos. Colocado de outra forma, não é preciso levar em consideração as necessidades de quem ‘não tem’. Segundo, faz parte de um processo geral de esquecimento, um fato que leva qualquer povo a repetir os mesmos erros do passado. Assim, contar a história dos Parintintim e de outros grupos indígenas segundo sueas perspectivas  é um aspecto importante na procura para um projeto nacional satisfatório, e um aspecto necessário para este ser um material de maior riqueza didática.

 

 

Um vislumbre do quotidiano dos Parintintim

https://www.youtube.com/watch?v=N6dfOHPG1sM

Nesse vídeo, somos introduzidos à vida quotidiana dos Parintintim. Nas primeiras imagens, conseguimos ver o ambiente em que vivem – perto do Rio Madeira, ao lado da floresta Amazônica, em casas que parecem uma mistura entre o modo indígena e o moderno: tetos de palma e janelas de vidro, chão de terra e paredes de tijolo, para dar um exemplo. Nas próximas cenas, vemos os Parintintim reunidos em roda no espaço aberto no chão de terra que fica entre as casas. Ali, participam de uma manifestação cultural – uma dança nativa, que utiliza paus e flautas em sincronia entre as dezenas de jovens parintintim. Além disso, observamos meninos brincando no rio, famílias conversando  e imagens da utópica floresta amazônica. Mas entre estas imagens da comunidade no dia a dia, há comentários sobre o status dos Parintintim no Brasil atual. Nesses comentários, muitos membros da comunidade falam da possível perda da cultura no transcurso do tempo. Com cada nova geração, um dos entrevistados comenta,  vão se perdendo os costumes e a língua dos Parintintim. Porém, os membros da comunidade não  esperaram simplesmente que isto aconteça,  e lutam contra esta possibilidade, acreditando na ideia de preservar a cultura  na forma da língua e dos costumes de geração a geração, e, ao mesmo tempo, formando parte do novo Brasil globalizado. Desta forma, o vídeo oferece uma breve perspectiva sobre o status dos povos indígenas atuais, que mesmo tendo a cultura ameaçada no mundo moderno, lutam por preservar os diversas e ricos costumes que formam parte do seu quotidiano.

 

Problemas de acesso a recursos dos Parintintim

Uma questão que atinge tanto os Parintintim quanto os outros grupos indígenas no Brasil é o acesso a recursos. No livro “Povos Indígenas no Brasil 1987/88/89/90”, os autores dão a conhecer os limites da terra dos Parintintim e os problemas associados com estes limites. Naquele tempo, os Parintintim estavam separados em duas áreas indígenas : o AI Ipixuna e o AI Nove de Janeiro. É importante assinalar que nesses anos, as AI não tinham demarcação física e, além disso, o único posto da Funai perto dessas áreas era o do PI Humaitá, longe das duas áreas indígenas dos Parintintim. Esse problema facilitou a invasão das terras indígenas por regatões e madeireiros, que não encontraram barreiras físicas para invadir a area. Para terem acesso a recursos como serviços médicos, educação, e ajuda em geral, eles teriam de viajar longe do território. No AI Ipixuna, o problema mais grave era a distância entre o AI e o centro da Funai, muito distante. O AI Nove de Janeiro, estando mais perto geograficamente do posto da Funai, viviua em conflito com os pescadores e a falta de comida. Atualmente, levando em consideração a postura  do governo com respeito aos direitos indígenas (negligência),  a situação dos Parintintim segue sendo precária.

Resumo sobre os laços sociais dos Parintintim

Os Parintintim, mesmo sendo um grupo indígena relativamente pequeno, representam aspectos importantes, que são compartilhados entre várias etnias distintas da região. Um exemplo  é a composição social do grupo. Na tribo Parintintim, o casamento entre duas pessoas consolida-se no ritual da menarca (que acontece na primeira menstruação da menina),quando a menina pode casar-se com o primo “cruzado”. Isso se associa ao direito do irmão da mãe do filho que casou de nomear a criança. Assim,  fortalecem-se os laços entre as várias famílias que compõem a tribo, fato que realça a natureza comunitária desses grupos indígenas pequenos. Similares atributos podem ser observados em outros grupos no estado do Amazonas.

Outro aspecto importante  é o parentesco. Entre eles, existem “metades patrilineares exogâmicas”, que refere a um relacionamento no qual famílias se unem a partir de laços feitos entre os homens ou lideres patrilineares, que procuram essa união das famílias através do casamento com uma pessoa de um grupo “exogâmico” (essencialmente, étnico) distinto. Esse estilo de liderança patrilinear  aparece  em varias outras tribos da região. Pode-se pensar que esse estilo de casamento exogâmico foi também uma forma de restringir o casamento entre primos diretos.

Introdução aos Parintintim

Os Parintintim são um grupo indígena de aproximadamente 480 pessoas, morando atualmente no estado do Amazonas, especificamente, na região superior do Rio Madeira e da Rondônia Central. Baseado na herança linguística deste grupo, supõe-se que os antepassados dos Parintintim povoavam a área ao redor do rio Tapajós, mas, nos anos que antecederam sua “pacificação” (1922-3), eles moravam ao leste do rio Madeira, ao norte do rio Ipixuna e Maicí, e ao sul da boca do Machado.

Ainda que eles sejam conhecidos pelo nome Parintintim, eles se autodenominam  “Kagwahiv”,  que significa “nosso povo”. A língua dos Parintintim pertence ao grupo de línguas Tupi-Guarani, mesmo se existem dois diferentes dialetos dessa língua.

Um dos aspectos mais interessantes da cultura Parintintim é o mito de criação, que ocupa lugar central na sua visão cosmológica. A estória conta de Pindova’úmi’ga, um xamã poderoso, que foi o criador do povo do céu. Na procura de um lugar para habitar, o xamã procura o rio, uma árvore debaixo da terra, mas encontra todos os lugares ocupados; como resposta, ele cria um lar no segundo nível do céu, e traz a terra mais fértil, da qual gozam seus filhos, que vão formando parte do povo do céu. Considerando essa estória, pode-se observar a importância do xamanismo nas crenças espirituais do povo Parintintim, e também a importância da natureza na sua vida.

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