Uma Conversa com Denise

por Ethan Abraham

Quando cheguei ao nosso Zoom para a aula de quarta-feira, não sabia o que esperar. Tinha feito um pouco de pesquisa prévia sobre o tema, mas não tinha muito conhecimento.

Começamos por nos apresentar. Denise Mota é jornalista. Ela tem um blog chamado Preta, Preto, Pretinhos que é publicado pela Folha de São Paulo. Denise disse que estava “Muito contente de falar com vocês”, porque acredita que todos nós podemos fazer pequenas diferenças nas nossas comunidades e nos nossos arredores. Concordo. Penso que pequenas mudanças podem tornar-se grandes mudanças se um número suficiente de pessoas fizer pequenas mudanças.

Após as apresentações, Denise definiu todo o vocabulário relevante para nós. Muito disto era o mesmo que o vocabulário em inglês, e a maioria das palavras era cognatas. Não conhecia o termo “travestis”, que descreve pessoas que nasceram homens e gostam de se vestir e expressar como mulheres, mas não se identificam como mulheres. Uma coisa importante sobre este termo é o artigo. É correto dizer “as”, e não “os” travestis. Ela disse que as pessoas que se identificam como tal são “mais próximas dos drag queens”, um termo usado em inglês. Ela definiu Mulheres Transexuais e Homens Transexuais, mas eu já estava familiarizado com esta terminologia. No entanto, não conhecia o termo “transmasculinos”. Os transmasculinos são pessoas que nasceram mulheres e gostam de se vestir e expressar como homens, mas não se identificam como homens.

Depois do vocabulário, Denise mostrou-nos estatísticas da violência contra negros, mulheres, e especificamente membros negros da comunidade LGBT+. Fiquei surpreendido com a enorme quantidade de violência que ocorreu. Não consigo imaginar o que seria viver sob aquela nuvem de medo. Pior ainda, ela disse que muitas destas estatísticas são subnotificadas, por medo de represálias. Uma estatística que mostrou foi que 99% das pessoas LGBT+ não se sentem seguras no Brasil. Outra coisa realmente surpreendente para mim foi que 90% das travestis e transexuais no Brasil vivem da prostituição. Isto torna-as ainda mais vulneráveis, porque a prostituição não é frequentemente uma profissão estável.

No final da apresentação, fiz uma pergunta sobre o efeito do machismo na cultura brasileira. Sabia que a América Latina em geral tem papéis de gênero mais tradicionais do que os Estados Unidos. Denise disse que sim, isto torna pior a violência e a rejeição familiar. Ela também mencionou algo que eu não tinha considerado. O Brasil tem expectativas mais tradicionais sobre homens e mulheres: como agem, como se parecem, como soam. Para uma pessoa que deseja fazer a transição ou identificar-se como não-cis, este fato torna ainda mais difícil encontrar aceitação. Nos Estados Unidos, as pessoas podem julgá-lo pela sua roupa, mas a maioria das pessoas não espera que mude a sua roupa ou a sua aparência exterior. Como homem, posso vestir algo afeminado e ainda ser visto como um homem. No Brasil, os papéis de gênero mais definidos significam que as pessoas estão mais presas na sua expressão exterior. Penso que isto torna mais difícil, por exemplo, que uma criança explore com o uso de rosa, ou um vestido, ou qualquer outra forma que deseje expressar-se fora da norma.

Esta conversa foi muito informativa. Revelou-me uma parte da situação no Brasil para as pessoas da comunidade LGBT+. Penso que na maioria dos casos, as opiniões dos outros merecem respeito. Contudo, se alguém defende a violência, o ódio ou o medo contra outro, simplesmente por causa da sua expressão pessoal, a sua opinião merece mudar.