Amor em Abandono

Amor em Abandono

por Ethan Abraham

Dora veste o seu vestido, comprava comprado para ela na estrada por Josué. Passa batom, vendo o seu reflexo na luz de uma vela. Entra no quarto na ponta dos pés, verificando Josué enquanto ele dorme pacificamente. Coloca a carta da mãe morta de Josué no armário. Então, quieta como um rato, deixa Josué para trás, o menino que ela tem cuidado desde a morte da mãe dele. Sem um abraço, uma palavra, até mesmo um olhar compartilhado, ela abandona-o no cuidado de dois homens, os irmãos do menino, que ela conheceu por menos de doze horas. O filme Central do Brasil, através da subversão do tropo clássico da viagem na estrada, conta uma história mais emocionante e crível de uma mulher cansada redescobrindo sua empatia.

Dora é uma escritora de cartas na estação no trem. Todos os dias, escreve os pensamentos e sentimentos das pessoas analfabetas que passam. Um dia, um menino Josué, que tinha nove anos, e a sua mãe enviam uma carta para o pai dele, Pedro. Quando eram casados, ele era um bêbado, mas a mãe quer que Pedro conheça o seu filho. Eles retornam mais tarde para mandar uma carta nova, e enquanto saem, a mãe do Josué é atropelada e morta por um carro. Josué é deixado na estação, sem a mãe, sem família. Inicialmente, Dora ignora este menino, mas por fim o traz para casa. Depois, ela o vende a uma família que diz encontrar pais americanos para as crianças. Eles a pagam pelo menino e Dora sai. Com algum incentivo de sua amiga, Irene, ela rouba o menino o próximo dia, e eles partem juntos em uma viagem para encontrar o pai do Josué.

Durante esta viagem, Josué e Dora desenvolvem uma amizade e até uma espécie de relação de mãe e filho. A viagem deles é longa, com muito choro, mas no fim eles encontram a casa do Pedro. Mas tinha partido, deixando para trás uma carta que diz que tentaria  encontrar sua ex-esposa e Josué. Dora deixa Josué nesta casa com seus dois irmãos e decide começar a vida em um outro lugar longe do Rio.

Dora é uma ilha no mar de emoção, mas está isolada de tudo isso porque não se permite sentir. Ela escreve estas cartas, mas não manda todas elas. As cartas que ela não gosta ficam na gaveta, ou vão para o lixo. Quando ela joga fora as cartas de seus clientes, pode descartar essas emoções e mensagens. Elas só são reais se ela permitir que sejam. Enquanto aprisiona e engarrafa suas emoções, fez o mesmo às pessoas para quem escreve. Jogadas fora ou colocadas na gaveta, estas cartas nunca veem a luz do dia e estas emoções, saudações, declarações de amor, nunca são lidas pelos destinatários. Ser o árbitro destas cartas também lhe dá algum senso de poder sobre essas pessoas. Trabalhando em um emprego insignificante, pagando a um homem pelo espaço, a vida dela carece de excitação e talvez significado também. No começo, estas cartas poderiam ter oferecido a Dora uma oportunidade de ver através dos olhos dos seus narradores, e sair de seu próprio mundo. Mas quando nós a vemos no filme, está claramente além do ponto de empatia, e, portanto, da vida vicária.

Quando Dora entra nos correios perto do fim do filme, onde um espectador pode assumir que finalmente teria enviado essas cartas, representa um ponto de mudança para sua personagem. Ela deixa as cartas seguirem, sem julgamento, sem censura. Ao mesmo tempo, está deixando a sua empatia e gentileza florescerem para Josué, abrindo o seu coração fechado. A sua ação final, deixar Josué, pode parecer cruel. À primeira vista, pode se acreditar que ela fez o mesmo a Josué como as cartas que ela não gosta: jogar fora. Na verdade, ela o enviou, como as cartas nos correios, à sua casa correta. Ele chegou no lugar onde pode escolher ser um carpinteiro, se quiser. A família do Josué preocupa-se, e se nós podemos acreditar na carta do pai do Josué, o pai dele voltará em breve.

Este fim não é perfeitamente doce. Nós não sabemos se o pai voltará, à casa ou à bebida. Os irmãos dele estão a viver vivem na casa ilegalmente, acrescentando outro elemento da incerteza da situação. As pessoas que a Dora vende Josué ainda a tentam encontrar, e a única amiga da Dora é deixada para trás, no Rio. Se esse fosse o filme clássico da viagem na estrada, estas pontas soltas seriam amarradas. Dora teria ficado com Josué, teria-o criado como o seu filho, e eles teriam a sua felicidade para sempre. Mas com este fim entusiasmante, esta história tem valor somente superficial. Só com a imperfeição, o filme se torna crível.

A vida não é perfeita e organizada, e este conto também não é. Os personagens neste filme são defeituosos, como nós. Mas enquanto a história de Dora tem valor, a lição mais aplicável é mostrada por Josué. Dora muda, e ele aceita as suas mudanças à medida que elas vêm. Será por que é uma criança, ou por que é um humano do bom coração? Não importa. Esta história nos lembra que cada e toda pessoa tem a capacidade de mudar. É a nossa responsabilidade encorajar e aceitar as mudanças quando elas vierem.